quarta-feira, 27 de março de 2013

curativo

chove em são paulo
o esgoto brota e adentra curativos

são paulo sangra
e o som ao redor dá o recado:
não ouse esquecer o medo,
nunca!

são paulo sangra
mesmo que o chão esteja branco
e você tenha se esquecido

e se você se esquece,
só ouse esquecer o medo,
sempre saiba esquecê-lo.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

perder objetos, deixar lugares:
eles continuam existindo,
só que escondidos de mim

domingo, 14 de outubro de 2012

la guajira

podem dizer que não,
mas o mundo é grande,
cheio de pontas de continente,
de desertos margeando praias na linha do equador
ou de picadas de água viva
que só saram se uma amiga te abraçar e fizer xixi na sua perna,
mas mesmo assim não saram

quantas la guajira existem no mundo?
o celular de repente toca,
é um engano lá de bogotá,
e também em la guajira há uma mulher com olhos de louca,
ela tira pneus e cordas e sacos e lixos da areia
e atira no mar
e sai correndo

que se passa, chica?
só com o tubarão morto ela não faz nada

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

o seu nome era a única coisa que ela escreveria, a chave,
na porta de um banheiro.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

se a rua da sua casa mudasse de mão
ou se um amigo escrevesse hai-kais que só podem ser lidos na casa dele
se você não visse o guarda que pernoita ao lado vestir o colete à prova-balas
ou se você tivesse uma ínfima noção do que é não ter casa,


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

como se escrever fosse só sentar aqui e escrever
escrevo o que der na telha,
escrevo a saudade de um cubano

escrevo só porque é sexta à noite
e porque andar de bicicleta na noite da cidade feriada
é a melhor coisa do mundo