uns três
terça-feira, 16 de novembro de 2010
olhar
um liquidificador
diz: me olha, olha
e me desenha
e você
desenha
tudo o que sabe dessa palavra longa;
você desenha
como
quem fala sem jamais ter ouvido nenhuma palavra.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
.
o céu azul de são paulo,
prédio sem janela:
nele não entra sentimento sem nome:
entram homens que à noite correm atrás de caminhões
atrás de
mordidas em bordas
atrás das cordas de um violão
tocadas
uma
a uma.
domingo, 3 de outubro de 2010
quando conheço a rua
piso com fé sobre o bueiro
amarro o cadarço como se realmente gostasse muito de viver
digo boa tarde ao homem mau
e até ficaria nua,
só para arejar.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
gosto de
escrever no escuro
(não que já tenha feito
isso)
para que as palavras
sejam vultos,
só vultos,
e não donzelas.
domingo, 15 de agosto de 2010
.
só não se
diz num almoço que
te emocionam
as pálpebras que se curvam empoeiradas
ante o sono
— seria tão grave
como um almoço
em silêncio.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
há dois adolescentes no portão
e eles não são nem
eu nem você
(não conheço esses quatro)
há um poema e no poema
um eu um você
e o poema não é de amor
(nem é poema)
hoje só escrevo
as vicissitudes de
bairro nobre
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